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Why Great Success Can Bring Out the Worst Parts of Our Personalities, D. L. and more.jpg
ses/Getty Images

Em 2021, a Harvard Business Review Brasil encerrou seus trabalhos no país. Com isso, as traduções e revisões que eu, Thaís, havia feito em parceria com a revista digital saíram do ar. 
 

Para fins de portfólio, publico-as aqui. 

Mas nada impede que você usufrua das ideias contidas nos textos – agora em português – desses autores-doutores acadêmicos. 

Por que um Grande Sucesso Pode Despertar o Pior de Nossa Personalidade

Elon Musk é, sob todos os aspectos, extremamente bem-sucedido. Após ajudar a fundar e vender o PayPal, o empreendedor agora se dedica a lançar diversos empreendimentos que têm como foco trazer mudanças sustentáveis para a geração de energia, o transporte de pessoas e bens, o desenvolvimento de interfaces cérebro-máquina, e a exploração do nosso Sistema Solar. Essas iniciativas possuem um propósito em comum – ou obsessão em comum, se preferir – que é o de criar um futuro mais sustentável e resiliente para a humanidade. Isso está sendo construído por meio da combinação de uma engenharia brilhante e de um pensamento inovador. Não há garantias de que tais empreendimentos serão bem-sucedidos no futuro, mas, até agora, eles têm desafiado expectativas e inspirado pessoas ao redor do mundo. 


Não há dúvidas de que o talento de Musk para empreender, ou seja, sua habilidade de transformar ideias inteligentes e originais em projetos executáveis, é realmente extraordinário. Contudo, há um outro lado – e não menos notável – de sua personalidade que vem se manifestando com certa frequência em seu relacionamento combativo com investidores e funcionários, com a mídia, nas redes sociais, e na sua aparente dificuldade em aceitar críticas. Esse padrão de comportamento, que é o oposto de sua natureza humanitária e de sua busca por mudanças positivas, compromete suas qualidades de liderança e já levou um dos colunistas do jornal New York Times a descrevê-lo como o “Donald Trump do Vale do Silício”. 
É claro que a lista de empreendedores, industriais e bilionários bem-sucedidos que possuem muitos talentos e conquistas, mas também personalidades excêntricas, difíceis e voláteis é longa. Howard Hughes passou a maior parte de seus últimos anos isolado em vez de interagindo com o público e, como consequência, expondo-se aos germes que tanto temia. John Paul Getty instalou um telefone público em sua mansão a fim de não ter que pagar pelas ligações de seus convidados; era, na época, o homem mais rico do mundo. Tim Armstrong, quando ainda era CEO da AOL, demitiu o diretor de criação da Patch, Abel Lez, durante uma teleconferência ao vivo após Lez ter tirado uma foto dele para o site interno da empresa. Steve Jobs era conhecido por repreender funcionários e fornecedores em linguagem impublicável. 
O estereótipo do empreendedor-bem-sucedido-de-temperamento-difícil é tão enraizado que muitos acreditam que esses traços de personalidade são a causa do sucesso empresarial. Na verdade, é muito mais provável que talentos como Musk, Hughes, Getty, Armstrong e Jobs tenham alcançado o sucesso apesar desses traços. Para a maioria de nós (que não possui tamanha genialidade), não colocar limites em certos comportamentos nossos pode gerar graves danos à carreira e vida pessoal. 
Embora esse “lado obscuro da força” da personalidade não seja a razão do sucesso, o sucesso pode, sim, acentuar o lado mais indesejável da nossa personalidade. Talvez porque o poder diminua nossa motivação para gerenciar nossa reputação de uma maneira positiva. Quanto maior o poder e a influência sobre os outros, menor é o interesse em agradar e conter nossos traços mais impertinentes. 
O Vale do Silício, com seu mito do inovador solitário que quebra o status quo, é um dos lugares mais suscetíveis a essas dinâmicas. Um empreendedor que tenha um ar de extrema confiança pode inspirar e motivar seguidores, e as pesquisas indicam que um pouco de egomania não só é comum entre líderes de alto desempenho, mas também benéfico. Contudo, existem aqui dois problemas: esses benefícios desaparecem durante tempos mais difíceis; e muitos líderes demonstram muito mais do que leves traços de narcisismo, uma vez alcançado o sucesso. O que começa como um ponto forte – pensar diferente e saber como desafiar as convenções sociais – pode acabar se tornando uma fraqueza, já que todos os olhares de desaprovação em relação ao temperamento tornam-se insignificantes se comparados aos olhares de admiração pelo talento. Logo o temperamento será contraproducente. Quatro fatores psicológicos, em especial, podem tirar os empreendedores dos trilhos, depois de conquistarem o sucesso tão almejado: 
•    Excesso de confiança. O sucesso pode levar a uma autopercepção enganosa. Não importa o quanto uma pessoa conquiste, pode haver um momento em que a visão que tem de si mesma ultrapasse suas conquistas, tornando-a incapaz de perceber suas próprias limitações e deixando-a satisfeita sem motivo real. Isso gera um excesso de confiança em suas habilidades, ou, como os antigos gregos costumavam dizer: húbris, ou arrogância, que ofende os deuses e exige, como punição divina, que se torne humilde. 
•    Narcisismo. O sucesso infla a autoimagem, que pode ser acentuada pela mídia, criando um status de celebridade. Isso pode, com frequência, levar a um narcisismo enaltecido, à medida que indivíduos bem-sucedidos tentam proteger suas lisonjeiras imagens diante de obstáculos inevitáveis. Ao serem questionados ou desafiados, os narcisistas tendem a reagir de modo agressivo e revidar com argumentos ainda piores. Vale notar que o narcisismo geralmente coexiste com o carisma e a simpatia, o que levou Sigmund Freud a dizer que, de certa forma, admiramos quem admira a si mesmo: costumamos manifestar amor e admiração por nossos líderes e pessoas que nos inspiram, em vez de manifestar amor próprio. Porém, uma pesquisa recente indica que quanto mais temos contato com líderes narcisistas – quanto mais os conhecemos de verdade –, menos os enxergamos de forma positiva. 
•    Isolamento. É difícil dizer a verdade diante do poder, ainda mais quando se trata de indivíduos cativantes e carismáticos, e cuja aprovação leva a benefícios tangíveis e intangíveis para todos. O sucesso cria uma escassez de opiniões e notícias negativas, além de um aumento de bajulação e servilismo. Quanto mais status e poder, mais intimidação e bajulação – transformando sua autoimagem exagerada em uma profecia autorrealizável. Executivos que reagem mal a notícias negativas e que se consideram superiores terão pouca motivação para criar uma equipe forte e independente que possa fornecer o necessário feedback crítico e totalmente honesto. Tudo isso é exacerbado pelo aumento da solidão e isolamento, o que pode ofuscar a capacidade de um indivíduo de ter uma ideia precisa do que está acontecendo. 
•    Diminuição do autocontrole. Algo que nos atrai no sucesso é a tendência de nos afastarmos cada vez mais das consequências do fracasso. Tal liberdade e independência permitem que, na melhor das hipóteses, tornemo-nos mais relaxados e autênticos. No entanto, esses comportamentos podem resultar em excentricidade e atitudes antissociais quando não controlados. Uma diminuição da necessidade de autocontrole gera, por sua vez, uma menor produtividade e pior qualidade das relações interpessoais. Perder a cabeça diante de críticas em situações em que é melhor permanecer em silêncio pode ser entendido como uma falha de autocontrole. 
Muitos de nós gostaríamos de ser bem-sucedidos, mas em algum momento isso significa ter que enfrentar esses quatro desafios psicológicos. A boa notícia é que, em comparação com os tipos de problemas de negócios, engenharia ou geopolíticos que os líderes de sucesso têm de enfrentar, controlar nosso lado “Mr. Hyde” é um problema relativamente simples. Mas exige um mínimo de autoconsciência, avaliação emocional e um trabalho que vá contra a corrente. Existem três coisas específicas nas quais os líderes nessas situações podem focar:
•    Promover a humildade. Coisas difíceis são difíceis – admitir isso não deveria ser uma vergonha. Por exemplo, investir em novas iniciativas é uma atividade difícil. É por isso que a Bessemer Venture Partners, a mais antiga empresa de capital de risco dos Estados Unidos, mantém uma carteira de não-investimentos, uma lista de investimentos que poderiam e deveriam ter sido feitos, mas que não foram. De fato, a pesquisa do professor da USC, Philip Tetlock, indica que uma previsão melhor vem de uma humildade adequada e do monitoramento do desempenho e dos erros.
•    Aceitar um sistema de pesos e contrapesos. Talvez a parte mais contraintuitiva de nosso conselho – aceitar algumas limitações do nosso próprio poder e assumir que essas limitações são impostas pelo bom senso de pessoas competentes – cria as condições certas para o desafio. Desenvolver levando em conta conflitos e limitar nosso próprio poder é uma ferramenta que recria a capacidade de autocontrole e a estabilidade que traz.
•    Ter disposição (real) para aprender. Muitas pessoas afirmam que ativamente pedem feedbacks negativos. Mas, na realidade, sua resistência a esses feedbacks é sutil, mas perceptível, alimentada tanto pelas emoções pessoais quanto pela necessidade real de projetar confiança como líder. Portanto, o primeiro passo para receber opiniões construtivas é estabelecer um espaço pessoal e confiar em um grupo de indivíduos cujo feedback se respeita. Esse grupo deve ter o conhecimento e a experiência do dia a dia nos assuntos em que você precisa de feedback. Ter uma equipe executiva de confiança é a melhor maneira de conseguir isso.
O grande sucesso tem seu preço. O que a princípio parece prazer e recompensa pode se tornar a própria armadilha, isolando as pessoas em um universo cada vez menor de sua própria criação. Nada grandioso pode ser alcançado de uma plataforma de lançamento tão pequena.
Talvez a solução mais simples seja lembrar que não chegamos aonde estamos sozinhos. Quando glorificamos o estereótipo do indivíduo excepcional que constrói a realidade a partir de um sonho, podemos criar condições para tornar o sucesso na carreira um catalisador perigoso de comportamentos perturbadores. Em vez disso, devemos lembrar o que disse C.S. Lewis: "A verdadeira humildade não é pensar menos de si mesmo, mas pensar menos em si mesmo"

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Elizabeth Grace Saunders é uma coach de gerenciamento de tempo e fundadora da Real Life E Time Coaching & Speaking. Ela é autora de How to Invest Your Time Like Money e Divine Time Management.

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Este artigo foi publicado originalmente em inglês, no dia 25 de maio de 2018, e foi escrito por Elizabeth Grace Saunders. Acesse o original aqui.

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